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O treinador da 1ª Medalha de Ouro em Ginástica Acrobática para Portugal

Entre os dias 2 e 4 de julho decorreu em Genebra, Suíça, a 27ª edição do Campeonato do Mundo de Ginástica Acrobática e Rita Ferreira e Ana Teixeira fizeram história ao conquistar a primeira medalha de ouro da disciplina para Portugal. Na mesma competição, as ginastas Barbara Sequeira, Francisca Maia e Francisca S. Maia alcançaram a medalha de bronze.

A Confederação de Treinadores de Portugal quer prestar a devida homenagem ao treinador das campeãs do mundo: Lourenço França.

Orgulhamo-nos que agora os treinadores de atletas medalhados também já recebam das organizações a respetiva medalha que reconhece o crucial papel que têm no desempenho do atleta!

Finalizamos este artigo com a recentemente criada rúbrica PASSAPORTE TREINADOR que dá a conhecer num flash o perfil  do TREINADOR entrevistado e que futuramente, depois de várias entrevistas, serão alvo de análise!

PASSAPORTE TREINADOR

Nome: Lourenço França

Modalidade: Ginástica Acrobática

Grau TPTD (Título Profissional de Treinador de Desporto): Grau IV

Formação Académica:  Professor de Educação Física / Mestre em Treino de Alto Rendimento

Tipologia de Treinador:  a tempo inteiro

Treinador de: Jovens e Alto rendimento

Há quantos anos é Treinador?  29 anos

Qual a sua filosofia de treino? Há 4 frases que me acompanham. Não são exclusivamente minhas. Mas como são adaptações do grande John Wooden tenho a certeza que não podem estar erradas: - "Faz do teu treino a tua obra-prima". - "As coisas correm melhor a quem tira o melhor partido de como as coisas correm". - "Ensina bem e depois: Repete, Repete, Repete, Repete, Repete, Repete, Repete e por fim... Repete mais uma vez". - "Ninguém faz nada sozinho" (é por isso que a minha equipa de treinadores é a melhor do Mundo).

Qual considera ser a sua principal responsabilidade como treinador? Autonomizar os meus ginastas dando-lhes as ferramentas e os conhecimentos para serem tudo aquilo que quiserem ser.

Que competências desportivas acha fundamentais trabalhar na sua modalidade? A única competência essencial é o amor pelo que se faz. Todas as outras são consequência desta. Se falarmos em competências motoras as mais importantes são a força, a velocidade e a flexibilidade. Mas essas melhorarão na exacta proporção da competência essencial: Love is all you need. Porque tudo melhorará na medida do volume trabalho que irei colocar para as desenvolver. Ninguém treina 4h-5h diárias (ou às 6h30m da manhã) em idades de desenvolvimento pessoal e social (puberdade e início da idade adulta), com centenas de solicitações sociais e outras tantas obrigações / pressões académicas sem gostar incrivelmente disto. É na conciliação destes mundos e de tudo o que um jovem de hoje tem de fazer com a prática de desporto de Alto Rendimento que eu mais gosto de operar. Ajudá-los a fazer tudo. E a fazer tudo bem. Especialmente quando o "mundo" lhes diz que é impossível. Mas não é. Eu sei que não é. No outro dia perguntaram-me quantas medalhas em Campeonatos Europeus e Mundiais já ganharam os nossos ginastas. Honestamente respondi que não faço ideia porque nunca me dediquei a contá-las. Mas sei que há 15 ginastas meus que hoje são médicos e há mais duas a caminho de o serem. Esse número eu sei de cor (e, de memória e com certeza, podia dar exemplos de muitas outras profissões).

Que competências pessoais considera fundamentais ter como treinador para desenvolver os seus atletas? A atenção. Aos outros, ao próximo, aos detalhes, ao contexto e ao meio que nos rodeia. Saber fazer o que for melhor para os nossos ginastas em cada momento e de acordo com estes 5 pontos vai determinar o sucesso deles (e não me refiro apenas à Ginástica, refiro-me ao sucesso na vida; nós não ensinamos Ginástica, isto é um tubo de ensaio para a vida futura deles).

Que experiências de vida o têm ajudado na sua profissão como treinador? A minha experiência de 16 anos como ginasta foi importante mas desde jovem tentei aprender com todos os treinadores com quem tive o privilégio de estar. As melhores experiências que tive são um mix dos meus insucessos (e das coisas erradas que fiz) com as mudanças que processei em diversas etapas da minha minha vida. Apesar de ser bastante conservador, não hesito em tentar coisas novas adaptadas ao meu contexto e em experimentar. Experimentar sempre. Na minha mochila há sempre um recente artigo científico que vou "devorando" devagar. É por isso que dificilmente digo "Não" a um desafio ou a uma proposta para dar formação - porque é com os outros que mais aprendemos. Acima de tudo e antes de mais eu sou Professor. Ser treinador é uma sub-categoria, é um ramo desta árvore enorme que é ENSINAR. E é a melhor profissão do mundo! É por isso que todas as minhas maiores experiências estão relacionadas com o ensino. Qualquer que seja a matéria (tanto dou explicações de Física a alunos do 12º ano como vou ensinar Ginástica Acrobática à Venezuela ou a Moçambique). Retrospectivamente, é no ensino que encontro as melhores experiências profissionais da minha vida pois é no contacto com os outros que mais ganhamos. Ver aqueles olhinhos a brilhar quando percebem o exercício ou quando fazem uma habilidade pela primeira vez é algo que não tem preço. E é para os olhos dos meus ginastas ou alunos que foco a minha atenção e é onde vejo se tive ou não sucesso a ensinar.

Fotos: Isabel Silva