Má educação não é paixão
Artigo de A BOLA versão papel 05-05-2021
Os Treinadores têm um papel fundamental no crescimento e desenvolvimento do desporto em qualquer País. As suas competências não se restringem apenas às questões específicas da sua modalidade, vão muito para além disso. Um Treinador, desde os escalões mais jovens até ao rendimento tem, acima de tudo, de saber lidar, orientar e relacionar-se com os seus praticantes. As suas qualidades humanas vão influenciar os seus praticantes enquanto pessoas, cidadãos. A responsabilidade social de um treinador obriga-o a ser um exemplo para os seus praticantes, mas também para todos os que lidam com ele ou simplesmente o observam. A profissão de Treinador é muito intensa e a pressão é diária. Um cirurgião quando opera também é sujeito a uma enorme pressão, um erro, por mais pequeno que seja, pode colocar em causa uma vida. Um advogado, a defender um seu cliente no tribunal também é sujeito a enorme pressão. Também aqui um erro poderá ter consequências para uma vida. Um operador de caixa num supermercado também é sujeito a pressão. Um erro nas contas ou no manuseamento dos produtos poderá implicar no descontentamento de um cliente. Mas o que distingue estas profissões (e a maioria das profissões) da do Treinador, é que o Treinador tem sempre centenas de olhos em cima dele. Sejam os dos pais e familiares, quando trabalha na formação, ou dos milhares de adeptos que o observam quando ele chega aos patamares dos seniores. A sua exposição perante tanta gente é uma pressão quase inqualificável, quando comparada com os exemplos de outras profissões. Mas por isso é que a sua responsabilidade social é enorme, por isso é que nem todos têm competência e vocação para serem Treinadores. A partir do momento em que a má educação é confundida com paixão, a violência (verbal ou física) com dedicação e entrega, e o confronto com a defesa dos seus praticantes e clube, significa que o papel do Treinador, a sua essência no seio da sociedade, está a ser deturpado. Os verdadeiros Treinadores nunca aceitarão isso.
Pedro Sequeira, Presidente da Confederação de Treinadores de Portugal