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Treinador Gabriel Mendes nos Jogos Olímpicos!

Gabriel Mendes, está ligado ao ciclismo desde a infância, foi atleta e agora é selecionador nacional. Orienta Iuri Leitão, Ivo Oliveira, Rui Oliveira e ainda Maria Martins que será a primeira portuguesa a participar nos Jogos Olímpicos, no ciclismo de pista. Em dez anos são 38 as medalhas conquistadas pelos atletas de Gabriel Mendes, desde a formação à elite.

A minha ligação ao ciclismo tem as suas raízes no contexto familiar”, revela de imediato Gabriel Mendes, de 46 anos. Natural da Marinha Grande, “desde criança que me recordo que sempre tive contato com as bicicletas, quer porque tínhamos as bicicletas em casa porque eram um importante meio de transporte aqui na Marinha Grande, cidade industrial numa zona plana do país em que as pessoas, há 40 anos e mais, se deslocavam para o trabalho de bicicleta. Durante todo o meu período escolar, a bicicleta fazia parte do meu estilo de vida como meio de transporte. Por outro lado, o meu pai era uma pessoa que tinha feito ciclismo de competição quando era mais jovem e havia aqui em casa uma bicicleta de competição - que ainda existe! - e que se distinguia de todas as outras e me chamava a atenção”, contou o próprio.

Durante a infância, ainda assistiu ao pai a competir “mas mais no contexto de treinos, porque aqui na Marinha Grande faziam-se muitas provas populares de ciclismo e muita atividade desportiva ligada ao ciclismo e tudo começou por aí. Mas foi na adolescência que iniciou a prática do ciclismo: “Comecei num contexto mais regional e fui sempre progredindo, até aos 23 anos. Fiz ciclismo de estrada, fiz algumas provas da categoria de Sub-23. Na altura também competíamos com o pelotão profissional. Em determinado momento da minha vida optei por seguir os estudos e colocar um ponto na carreira desportiva, fui estudar, licenciei-me na área das Ciências do Desporto, fiz o mestrado e abri uma linha de trabalho na área do ciclismo que era aquilo que me interessava, isto é, procurei dentro da área das Ciências do Desporto trabalhar e estudar os assuntos que mais me interessavam relacionados com o ciclismo”. Foi professor durante cerca de 10 anos até que se candidatou a um lugar de técnico na Federação de Ciclismo e ficou com o lugar, que ocupa até hoje: “No início de 2010 a Federação abriu um concurso e eu, que estava ligado à modalidade e tinha alguma experiência, concorri, fiquei e acabei por deixar o ensino. Seria para iniciar o processo do ciclismo de pista na Federação, a criação duma seleção e a dinamização da atividade de pista, isto em 2010, após a construção do velódromo de Anadia e foi assim que iniciei o meu trabalho no ciclismo de pista. No fundo eu já tinha uma ligação ao ciclismo de estrada, quer como praticante quer como treinador, uma vez que entre 2006 e 2010 colaborei sob o ponto de vista de controlo e avaliação de treino com uma equipa de ciclismo de estrada, o Crédito Agrícola de Pombal, através do meu amigo Fernando Mota, que era o diretor e dono da equipa”, acrescentou o treinador.

No final de 2009 é inaugurado o velódromo nacional em Anadia e a Federação de Ciclismo pretendia desenvolver a atividade de pista e tinha um projeto para a criação de uma escola de ciclismo de pista e também para a constituição das seleções nacionais. “Na altura não havia técnico, não havia selecionador na área do ciclismo de pista e a minha entrada foi para iniciar esses projetos. A partir daí, fui sempre o responsável pelo ciclismo de pista em Portugal e cerca de dois anos depois acumulei também as funções de coordenador e diretor técnico nacional.”

Numa retrospetiva do seu trabalho enquanto selecionador nacional, faz um balanço muito positivo: “O ciclismo é uma disciplina muito difícil, com muitas adversidades. Nestes 10 anos, temos 38 medalhas ganhas desde a formação até à categoria de elite. O Rui e o Ivo foram os primeiros atletas a ganhar medalhas e tiveram um predomínio maior, foram eles que iniciaram este percurso de sucesso, mas nós começámos a trabalhar com eles desde a base. Depois foram aparecendo outros atletas, que foram entrando no programa, foram entrando numa determinada cultura e processo de trabalho e neste momento temos uma equipa nacional composta por atletas que percebem perfeitamente qual é a nossa filosofia de trabalho, que têm uma equipa interdisciplinar à volta deles que os procura ajudar naquelas dimensões que estão associadas ao rendimento, não só da minha parte técnica do treino como acompanhamento médico, nutrição, psicologia e no centro de alto rendimento que procura dar resposta de uma forma global às necessidades de um atleta de alto rendimento e vamos trabalhando todo um processo que chega a este momento e está a produzir resultados de forma consistente e consolidada. Foram 10 anos de trabalho até chegar aqui, avalia o técnico.  

A pandemia provocada pelo vírus Covid-19 afetou a modalidade mais na área da competição do que do treino, como explica Gabriel Mendes. “Fizemos o Campeonato do Mundo de Pista no final de fevereiro, início de março e passado uma semana começou a questão da pandemia e do confinamento. Isso tirou-nos a possibilidade, no caso do ciclismo de pista, de podermos ter acesso ao centro de alto rendimento e fazermos todo o trabalho mais específico. No entanto, alguns atletas como o Iuri Leitão e a Maria Martins, que são seguidos de forma mais próxima por mim, sou eu que faço a preparação deles, estão inseridos no programa e têm o apoio técnico e da nossa equipa de trabalho interdisciplinar do centro de alto rendimento e conseguimos ir fazendo o trabalho de preparação à distância. Sempre utilizámos essa metodologia, porque faz parte do trabalho diário do atleta, ele está em casa e segue a planificação de treino que nós estabelecemos e depois estamos juntos no centro de alto rendimento para controlo de treino ou para treinos de preparação específica ou algum estágio, mas a grande parte do tempo eles trabalham em casa. Um dos aspetos bastante positivos para eles foi a questão do Governo ter permitido aos atletas de alto rendimento treinar no exterior e isso ajudou bastante, porque é muito complicado fazer o treino indoor, não se conseguem fazer as mesmas cargas de trabalho, é também um contexto adverso sob o ponto de vista do exercício. Se no interior eles podem fazer 1 hora de treino sem grande stress global em termos fisiológicos, não é a mesma coisa do que fazer 3 ou 4 horas em casa. Poder treinar no exterior é uma grande vantagem. Nós com um processo de treino à distância fomos conseguindo manter os programas de trabalho; no que a pandemia nos colocou mais condicionamentos foi na inexistência de competições. No caso, por exemplo, da Maria, ela está inserida numa equipa de ciclismo de estrada inglesa e eles não fizeram qualquer competição durante o período da pandemia. A nossa perspetiva foi: nós temos este contexto, temos estas dificuldades e vamos ter de nos focar naquilo que nós neste contexto podemos fazer, não vamos parar. Essa foi a nossa abordagem e fomos conseguindo manter o processo de trabalho com as condicionantes que a pandemia impunha”, relatou o treinador.

O selecionador nacional Gabriel Mendes e a atleta Maria Martins escreveram mais uma página na história do Desporto português, ao qualificarem Portugal para os Jogos Olímpicos no ciclismo de pista pela primeira vez: Vai ser a minha estreia e a da Maria e a de Portugal no ciclismo de pista nos Jogos Olímpicos. Aquilo que fizemos agora é um momento histórico para o ciclismo português e para o ciclismo de pista em particular e a primeira participação portuguesa é feminina, salienta, com orgulho que não esconde: “É uma felicidade enorme e é um orgulho. Estamos a fazer o nosso trabalho e estamos a conseguir progredir, evoluir e contribuir para o sucesso dos atletas. É uma satisfação enorme que nos dá cada vez mais energia para continuarmos esta caminhada e este trabalho árduo que é trabalhar no desporto de alto rendimento”, afirma.

Com os olhos postos nos Jogos Olímpicos, “vai ser, de facto, o nosso grande objetivo para 2020, estamos plenamente focados nesse objetivo. Estamos a viver um momento de incerteza em relação àquilo que serão as condicionantes dos próximos meses devido à pandemia, mas vamos procurar fazer a nossa preparação da melhor maneira possível para chegarmos aos Jogos Olímpicos nas melhores condições possíveis e representar Portugal de uma forma digna dando o nosso melhor nesta primeira participação”, garante o selecionador nacional.

Apesar do crescente sucesso, Gabriel Mendes é movido pela paixão: “Nunca deixei de trabalhar mais ou menos em função de motivação externa. Dou sempre o meu melhor porque eu faço isto de uma forma apaixonada, é a modalidade que eu gosto desde a infância. Faço isto com muito amor”, assegura Gabriel Mendes.  

A Confederação de Treinadores de Portugal deseja as maiores felicidades e os maiores sucessos à equipa nacional de ciclismo de pista, orientada por Gabriel Mendes.