“A CABEÇA É QUE EMPURRA AS PERNAS”
O triatlo é uma modalidade relativamente jovem, mas na qual os portugueses conseguem estar entre os melhores de nível mundial. Uma das mais recentes provas foi dada por João Pereira e Melania Santos, que conquistaram medalhas de ouro nos Jogos do Mediterrâneo, disputados em Tarragona, Espanha. Por trás dos feitos de ambos, está o treinador Lino Barruncho, da Federação Portuguesa de Triatlo, homem que no passado trabalhou, por exemplo, com Vanessa Fernandes.
Lino Barruncho explica-nos a complexidade do seu trabalho, que envolve três tipos de desporto que, à partida, nada têm a ver um com o outro.
“Em relação ao treino, não há dúvidas, que se trata de algo mais complexo. Ao fim ao cabo, temos de trabalhar com bons nadadores, bons ciclistas e bons corredores, porque para se ser um bom triatleta temos de ser bons nas três disciplinas”, começa por nos contar Lino Barruncho. “São precisas muitas horas de treino, com uma carga horária muito grande. Depois, o calendário internacional está cada vez mais alargado, com provas de fevereiro a outro, com um curto período de defeso. O circuito percorre todos os continentes, já andamos um pouco atrás do verão pois trata-se de um desporto de verão. Tudo isto exige uma dedicação total”.
Quando fala de dedicação total, Barruncho recorda que não basta ser profissional, das nove às cinco, como num emprego normal.
“Não, um profissional trabalha aquelas horas e depois vai para casa e pode descansar. Aqui não, especialmente quando falamos de treinadores. Quando falo com amigos que têm outras profissões, vejo que por vezes se queixam disto ou daquilo, mas digo-lhes que fora do horário laboral não têm mais preocupações. Nós, treinadores do triatlo, não temos horários, não temos fins-de-semana, se um atleta liga à meia-noite com um problema é à meia-noite que temos de responder e resolver o assunto. A vida de treinador é estar sempre disponível para um grupo de atletas profissionais”, sublinha o treinador, que acrescenta desde logo o segredo do sucesso: trabalho sério.
“Se facilitamos de alguma forma, os resultados vão por aí abaixo”, garante Lino Barruncho, que também foi praticante de duatlo e hoje tem a certeza que ser treinador é “muito mais exigente do que ser atleta. A grande dificuldade que tive foi perceber que falar com os atletas é algo complexo porque cada pessoa tem a sua forma de ser e pensar e o treinador tem de falar com cada um deles de forma diferente. Nenhum atleta gosta de ouvir palavras duras,” sublinha. E explica porquê:
“Treino um grupo de atletas que não jogam em equipa. Apesar de treinarem todos juntos, quando vão para as provas são adversários uns dos outros. Tudo isto trás uma complexidade de gestão de egos, de expetativas e de objetivos individuais que nem sempre é fácil.”
O fenómeno Vanessa Fernandes foi uma espécie de Eusébio para o mundo do triatlo em Portugal, reconhece o treinador nacional.
“Sim, o triatlo é uma modalidade recente e os primeiros resultados de relevo a nível internacional por atletas portugueses surgem por volta de 1998, mas entre 2004 e 2008, quando a Vanessa surge nos Jogos de Atenas e depois ganha a medalha nos Jogos de Pequim, houve realmente um boom da modalidade. A Vanessa é uma atleta fenomenal, do outro Mundo, e ajudou muito a que a modalidade fosse conhecida,” reconhece o treinador.
João Pereira e Melanie Santos são a ponta do iceberg do triatlo em Portugal? Há mais gente como eles a afirmar-se no panorama internacional? Lino Barruncho não tem dúvidas em dizer que sim.
“Um triatleta para atingir um nível internacional precisa de investir muito em si próprio. São dez mil horas de trabalho, isto é, quase dez anos antes de entrar no grupo dos melhores. Estas atletas que referiu, mas outros como o João Pereira, estão agora nesse patamar. O problema é que muitos jovens pensam que as coisas se conseguem de um dia para o outro e isso não é possível,” acrescenta Lino Barruncho, que não tem medo em admitir que a parte mental é a mais difícil no seu trabalho com os atletas.
“Há um ditado muito antigo que uso bastante no triatlo: a cabeça é que empurra as pernas. Um atleta pode ter níveis físicos fantásticos, mas se não tiver a cabeça no sítio não vai a lado nenhum. Por muito que hoje em dia já existam apoios psicológicos, somos nós, os treinadores, que temos de estar com eles todos os dias, temos que os motivar, puxá-los para cima quando se sentem em baixo,” confessa.
Igualmente importante para Lino Barruncho é a forma firme como o treinador tem de guiar o seu relacionamento com os atletas.
“O treinador não pode ser ‘amiguinho’ do atleta. A minha opção, como treinador, é sempre dizer a verdade ao atleta e mostrar o caminho como eu penso que ele deve ser. As relações entre atletas e treinadores desgastam-se por causa disso, do trabalho diário. Eu vejo a relação entre treinador e atleta como uma empresa de dois sócios, mas onde o treinador é o sócio maioritário com 51% e o atleta tem 49%. O sócio minoritário tem de confiar na capacidade e na experiência do sócio maioritário para ambos conseguirem ter sucesso. Se for o sócio minoritário a querer impor uma receita de facilitismo, então a empresa vai à falência,” destaca.
Lino Barruncho olha para os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020, com esperança de ver alguns triatletas portugueses conseguirem bons resultados.
“Acredito que, em condições normais, João Pereira e o João Silva, no sector masculino, e a Melanie Santos, no feminino, poderão fazer bons resultados. O João Silva e o João Pereira vão chegar lá no topo de curva de rendimento, com 32 e 33 anos, no topo da sua vida atlética. Quer um quer outro podem estar entre os melhores. O João Silva fez oitavo lugar em Londres, o Pereira foi quinto no Rio de Janeiro, são atletas experientes, sabem o que os espera e acredito que vão lutar por medalhas. No sector feminino, temos a Melanie, com 22 anos e muito tempo para progredir na carreira. Esteve perto de ir ao Rio de Janeiro, mas agora está bem, lançada na carreira internacional e chegará a Tóquio com 24 anos, ainda muito jovem, mas já com alguma experiência e tudo o que conseguir será ganho. Por isso, não podia estar mais satisfeito ao trabalhar com este grupo de triatletas”, conclui Lino Barruncho.
Lino Barruncho explica-nos a complexidade do seu trabalho, que envolve três tipos de desporto que, à partida, nada têm a ver um com o outro.
“Em relação ao treino, não há dúvidas, que se trata de algo mais complexo. Ao fim ao cabo, temos de trabalhar com bons nadadores, bons ciclistas e bons corredores, porque para se ser um bom triatleta temos de ser bons nas três disciplinas”, começa por nos contar Lino Barruncho. “São precisas muitas horas de treino, com uma carga horária muito grande. Depois, o calendário internacional está cada vez mais alargado, com provas de fevereiro a outro, com um curto período de defeso. O circuito percorre todos os continentes, já andamos um pouco atrás do verão pois trata-se de um desporto de verão. Tudo isto exige uma dedicação total”.
Quando fala de dedicação total, Barruncho recorda que não basta ser profissional, das nove às cinco, como num emprego normal.
“Não, um profissional trabalha aquelas horas e depois vai para casa e pode descansar. Aqui não, especialmente quando falamos de treinadores. Quando falo com amigos que têm outras profissões, vejo que por vezes se queixam disto ou daquilo, mas digo-lhes que fora do horário laboral não têm mais preocupações. Nós, treinadores do triatlo, não temos horários, não temos fins-de-semana, se um atleta liga à meia-noite com um problema é à meia-noite que temos de responder e resolver o assunto. A vida de treinador é estar sempre disponível para um grupo de atletas profissionais”, sublinha o treinador, que acrescenta desde logo o segredo do sucesso: trabalho sério.
“Se facilitamos de alguma forma, os resultados vão por aí abaixo”, garante Lino Barruncho, que também foi praticante de duatlo e hoje tem a certeza que ser treinador é “muito mais exigente do que ser atleta. A grande dificuldade que tive foi perceber que falar com os atletas é algo complexo porque cada pessoa tem a sua forma de ser e pensar e o treinador tem de falar com cada um deles de forma diferente. Nenhum atleta gosta de ouvir palavras duras,” sublinha. E explica porquê:
“Treino um grupo de atletas que não jogam em equipa. Apesar de treinarem todos juntos, quando vão para as provas são adversários uns dos outros. Tudo isto trás uma complexidade de gestão de egos, de expetativas e de objetivos individuais que nem sempre é fácil.”
O fenómeno Vanessa Fernandes foi uma espécie de Eusébio para o mundo do triatlo em Portugal, reconhece o treinador nacional.
“Sim, o triatlo é uma modalidade recente e os primeiros resultados de relevo a nível internacional por atletas portugueses surgem por volta de 1998, mas entre 2004 e 2008, quando a Vanessa surge nos Jogos de Atenas e depois ganha a medalha nos Jogos de Pequim, houve realmente um boom da modalidade. A Vanessa é uma atleta fenomenal, do outro Mundo, e ajudou muito a que a modalidade fosse conhecida,” reconhece o treinador.
João Pereira e Melanie Santos são a ponta do iceberg do triatlo em Portugal? Há mais gente como eles a afirmar-se no panorama internacional? Lino Barruncho não tem dúvidas em dizer que sim.
“Um triatleta para atingir um nível internacional precisa de investir muito em si próprio. São dez mil horas de trabalho, isto é, quase dez anos antes de entrar no grupo dos melhores. Estas atletas que referiu, mas outros como o João Pereira, estão agora nesse patamar. O problema é que muitos jovens pensam que as coisas se conseguem de um dia para o outro e isso não é possível,” acrescenta Lino Barruncho, que não tem medo em admitir que a parte mental é a mais difícil no seu trabalho com os atletas.
“Há um ditado muito antigo que uso bastante no triatlo: a cabeça é que empurra as pernas. Um atleta pode ter níveis físicos fantásticos, mas se não tiver a cabeça no sítio não vai a lado nenhum. Por muito que hoje em dia já existam apoios psicológicos, somos nós, os treinadores, que temos de estar com eles todos os dias, temos que os motivar, puxá-los para cima quando se sentem em baixo,” confessa.
Igualmente importante para Lino Barruncho é a forma firme como o treinador tem de guiar o seu relacionamento com os atletas.
“O treinador não pode ser ‘amiguinho’ do atleta. A minha opção, como treinador, é sempre dizer a verdade ao atleta e mostrar o caminho como eu penso que ele deve ser. As relações entre atletas e treinadores desgastam-se por causa disso, do trabalho diário. Eu vejo a relação entre treinador e atleta como uma empresa de dois sócios, mas onde o treinador é o sócio maioritário com 51% e o atleta tem 49%. O sócio minoritário tem de confiar na capacidade e na experiência do sócio maioritário para ambos conseguirem ter sucesso. Se for o sócio minoritário a querer impor uma receita de facilitismo, então a empresa vai à falência,” destaca.
Lino Barruncho olha para os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020, com esperança de ver alguns triatletas portugueses conseguirem bons resultados.
“Acredito que, em condições normais, João Pereira e o João Silva, no sector masculino, e a Melanie Santos, no feminino, poderão fazer bons resultados. O João Silva e o João Pereira vão chegar lá no topo de curva de rendimento, com 32 e 33 anos, no topo da sua vida atlética. Quer um quer outro podem estar entre os melhores. O João Silva fez oitavo lugar em Londres, o Pereira foi quinto no Rio de Janeiro, são atletas experientes, sabem o que os espera e acredito que vão lutar por medalhas. No sector feminino, temos a Melanie, com 22 anos e muito tempo para progredir na carreira. Esteve perto de ir ao Rio de Janeiro, mas agora está bem, lançada na carreira internacional e chegará a Tóquio com 24 anos, ainda muito jovem, mas já com alguma experiência e tudo o que conseguir será ganho. Por isso, não podia estar mais satisfeito ao trabalhar com este grupo de triatletas”, conclui Lino Barruncho.