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“SE FIZERMOS TUDO BEM PODEMOS IR AO MUNDIAL”

Portugal disputa no próximo dia 10, em Nis, cidade localizada 250 quilómetros a sul da Belgrado, a primeira mão do playoff de acesso à fase final do Campeonato do Mundo de Andebol de 2918. A seleção da Sérvia é um adversário que deverá apresentar fortes argumentos diante do conjunto português, mas Paulo Pereira, o selecionador nacional, recusa entregar o favoritismo ao adversário e garante que Portugal está na luta pelo lugar no Mundial que irá ter lugar na Alemanha e Dinamarca.

“Pressão existe sempre”, começa por avisar o técnico. “A ausência de pressão nem sequer ajuda ao desempenho dos atletas. Todos nós gostamos de defrontar grandes adversários, em pavilhões lotados, com o público a apoiar as suas equipas. É isso que esperamos na Sérvia, mas será isso que contaremos seguramente no segundo jogo, no dia 14, na Póvoa de Varzim”, sublinhou Paulo Pereira.

O selecionador nacional admitiu que alguns atletas portugueses, que já passaram por qualificações anteriores, possam sentir um pouco mais de ansiedade para ultrapassar este último obstáculo, mas também isso considera positivo.

“Motivação não lhes falta, disso tenho a certeza. É um grupo de jogadores de grande qualidade e todos nós sabemos que nem sempre se ganha por uma razão muito simples: por vezes o adversário é melhor. Mas hoje temos mais atletas a jogar fora, mais qualidade nos clubes nacionais, e por isso estamos cada vez mais parte de conseguir esse sonho, chamemos-lhe assim, de regressar à fase final do Mundial de Andebol”.

Portugal disputou apenas por três vezes a fase final do Mundial de Andebol, em 1997, no Japão, 2001, em França, e em 2003, quando a prova foi organizada no nosso país. É, assim, um lapso de 15 anos que o grupo orientado por Paulo Pereira quer apagar.

“Considerando também o Campeonato da Europa, não conseguimos um apuramento para a fase final desde 2006, quando estivemos no Europeu da Suíça. Por isso, este playoff apresenta um desafio especial para todos nós. Acredito que se fizermos tudo bem, se conseguirmos aplicar o nosso plano, se conseguirmos controlar as emoções, teremos capacidade de disputar com a Sérvia a passagem ao Mundial”, sublinhou o treinador nacional.

Paulo Jorge Pereira, de 52 anos, assumiu o comando da Seleção Nacional de Andebol há praticamente dois anos e desde há meses que divide a responsabilidade de treinar o CSM de Bucareste, da Roménia, país onde a equipa nacional portuguesa realizou a última fase de preparação para o embate com a Sérvia.

Pela própria experiência profissional – que teve passagens por Espanha, Tunísia e Angola, nestes dois casos à frente das respetivas seleções – Paulo Pereira acredita que os portugueses estão cada vez mais próximos dos melhores a nível europeu e mundial.

“Durante muito tempo fomos ficando resignados a não sair das nossas zonas de conforto, a não arriscar um pouco e partir à procura de desafios. Nos últimos anos, contudo, temos visto treinadores e atletas a sair, a trabalhar em países onde o grau de exigência é maior e com isso todos nós temos evoluído, o que, naturalmente, acaba por refletir-se na Seleção Nacional. As experiências têm sido, na maior parte dos casos, têm sido boas”, acrescentou o treinador.

Paulo Pereira recorda que nem sempre foi fácil para os portugueses trabalhar lá fora, porque o andebol nacional não era considerado de nível elevado. Com o tempo – e muito trabalho – o cenário foi mudando e hoje, acredita o técnico, já ninguém olha para o passaporte quando se considera a contratação de um treinador ou de um andebolista português.

“Quando estava na Tunísia, havia quem me perguntasse se em Portugal se jogava andebol. Parecia-lhes estranho. Talvez, numa comparação que nos diz mais, seria como um clube português ir contratar um treinador de hóquei em patins à Sérvia, por exemplo. Hoje, isso mudou e o andebol português está cada vez mais próximo dos melhores”, destaca Paulo Pereira.

Em vésperas do playoff com a Sérvia, o selecionador nacional revela confiança total nos seus jogadores. Os jogos com Chipre, Kosovo e especialmente com a Polónia, em janeiro passado, confirmaram as razões para se sentir confiante.

“Aquilo que parece fácil de fazer, por vezes falhamos. Por isso digo que o mais importante é fazer bem o fácil. E o que significa isso? Por exemplo, nos livres de sete metros temos de ter uma elevada eficácia de concretização. Estamos também a crescer a nível da defesa. Já o conseguimos fazer em janeiro, não apenas diante de Chipre e Kosovo, mas também com a Polónia. E porque nos primeiros jogos conseguimos uma vantagem de golos, tivemos a possibilidade de, frente à Polónia, jogarmos com dois resultados a nosso favor, a vitória e o empate, como aconteceu. Por isso, repito, frente à Sérvia, se fizermos bem o que é fácil, estaremos no bom caminho”, sublinha Paulo Pereira.

Apesar dos primeiros dias do estágio da Seleção Nacional terem decorrido enquanto ainda trabalhava com a sua equipa na Roménia, Paulo Pereira esteve sempre “por dentro” da preparação.

“Tenho, naturalmente, toda a confiança no Carlos Martingo e estivemos sempre em contato direto. Falamos todos os dias, várias vezes por dia, por vídeo conferência com os jogadores. Discutimos os planos de treino e sei que a entrega ao trabalho não podia ter sido melhor,” garante o selecionador nacional.

O facto de a Sérvia ter à frente um treinador que conhece muito bem o andebol português – Ljubomir Obradovic, que trabalhou quase uma década em equipas portuguesas – é um aliciante extra para Paulo Pereira.

“Esse conhecimento que ele tem do andebol português é natural, mas ao mesmo tempo nós também conhecemos muito bem as suas ideias, os seus métodos, a forma como as suas equipas jogam. Será um confronto especial, sem dúvida, mas nós queremos tanto ganhar este playoff com a Sérvia e Obradovic”, garantiu.

Ao olhar para os seus próprios atletas, Paulo Pereira sabe que pode contar com gente mais experiente e homens mais jovens, partilhando todos a mesma ambição.

“A escolha de uma seleção é um processo complexo em que procuramos chamar dois atletas para cada posição da equipa e à nossa escolha temos sempre ofertas diferentes. Jogadores da mesma posição podem dar-nos soluções diferentes e é isso que torna o trabalho ainda mais aliciante porque fazemos as escolhas tendo em vista os nossos planos de jogo e o que cada um dos atletas nos pode dar em diferentes circunstâncias. Temos jogadores que nos dão toda a confiança e por isso digo que vamos jogar com a Sérvia a pensar que é possível estar no Mundial do próximo ano”, garantiu o selecionador nacional.

Paulo Pereira está focado nos dois jogos do playoff, quer estar no Mundial do próximo ano, mas não quer gastar energias a imaginar o que poderá fazer a Seleção Nacional naquela prova.

“Primeiro favor encarar estes jogos, depois de verá. Existe um plano já definido com a Federação Portuguesa de Andebol para os próximos anos e terá de ser um trabalho de todos, da federação e dos clubes”, conclui.