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Fair-play

Problemas da realidade portuguesa
Urgência de intervenções preventivas

Autor Dr. José Curado (Presidente da CPATreinadores)

 

Os problemas e interrogações relativas ao respeito pelo fair-play e espírito desportivo e pela ética constituem uma importante área de preocupação para todos aqueles que procuram intervir com sentido crítico na evolução das práticas desportivas e dos respectivos processos de ensino – aprendizagem, treino e participação em competições. Neste sentido, são muitos e variados os problemas que constituem motivo de inquietação para os responsáveis da Confederação Portuguesa das Associações de Treinadores.

De entre os mesmos, destacamos os seguintes:

A) A existência de uma profunda pressão sobre os treinadores, verificando-se isso mesmo de uma forma especialmente gravosa para com os mais jovens e todos aqueles que treinam jovens ou equipas de jovens, com a constatação de uma acentuada e, a nosso ver, injustificada, precocidade na procura dos chamados “altos resultados” (esta designação é, na esmagadora maioria dos casos, completamente abusiva). É facilmente constatável que se verifica uma sobrevalorização dos “resultados” imediatos antes e acima de tudo, e dá-se até o caso de ocorrerem “chicotadas psicológicas” atingindo treinadores destas faixas etárias especialmente sensíveis. Temos vindo a tomar conhecimento directo de muitos e variados destes casos, para além dos muitos outros que também nos são relatados por muitos dos nossos alunos e ex-alunos que tentam as suas experiências no mundo do treino dos jovens e, do mesmo modo, por muitos outros treinadores. E não se pense que tais pressões são originárias exclusivamente da parte dos dirigentes, como se poderá eventualmente ser levado a pensar – elas surgem muito frequente e insistentemente dos próprios pais dos jovens atletas. Não raro, podemos ver alguns destes, descontentes com os “tais” importantes e “sacralizados” resultados, envolvidos em cenas muito pouco edificantes após as competições – e isto já não se passa apenas depois das dos tradicionais desportos colectivos! Pedimos que nos desculpem pela expressão que vamos utilizar, mas... até parece que está “tudo doido”! Que pensarão de tudo isto os próprios jovens?

B) Constata-se, do mesmo modo, uma quase total ausência de preocupações para com uma adequada preparação para a aceitação da derrota, algo de tão natural na actividade que envolve competição e, ainda por cima, com um enorme potencial de recolha do mais variado tipo de ensinamentos, facto que há muito é reconhecido por muitos treinadores e investigadores com uma vasta reflexão sobre os fenómenos que ocorrem nos vários teatros da prática desportiva. De facto, quantos responsáveis pelo enquadramento das actividades de aprendizagem e treino ensinam a “saber perder”

Para todos os praticantes desportivos deveria ficar muito claro desde tão cedo quanto possível que:

  • A vitória não representa tudo, nem é a única coisa;
  • O fracasso não é a mesma coisa que a derrota;
  • O sucesso não é equivalente à vitória.

Os praticantes desportivos devem aprender que o sucesso se encontra no esforço realizado para se alcançar a vitória, Os treinadores, devidamente apoiados por todos os restantes responsáveis, deverão ensinar-lhes que eles nunca serão “derrotados” se derem o máximo do seu esforço, se nunca “renunciarem à luta”! Estamos em crer que não será descabido de todo recordar aqui o lendário treinador de basquetebol norte-americano John Wooden, o qual, à frente da equipa masculina da Universidade da Califórnia e Los Angeles (a celebérrima UCL.A), conquistou dez campeonatos na extremamente competitiva NCM (National Collegiate Athletic Association), sete dos quais consecutivos, e que, antes dos jogos, costumava dizer aos seus pupilos e passamos a citar: Não poderão encontrar um jogador das minhas equipas da UCLA que vos possa dizer que me tenha ouvido mencionar “temos de ganhar este jogo de basquetebol”. Ele poderá dizer-vos que eu deixei isso implícito nalgumas das minhas palavras, mas nunca que mencionei “vitória”. No entanto, a última mensagem que deixava aos meus jogadores, mesmo antes do início do jogo, antes de entrarem em campo, era: “quando o jogo terminar quero-vos de cabeça levantada – e eu só conheço uma forma que vos permita sair de cabeça levantada: vocês saberem que fizeram o vosso melhor... Isto significa o melhor que VOCÊS podem fazer. Isso é o melhor, ninguém pode fazer mais do que isso... Façam esse esforço” (fim de citação).

Precisamos urgentemente de muitos exemplos destes. Ou será que poderemos ainda continuar a pensar que todos aqueles que não conseguiram ganhar medalhas ou não puderam “levantar a taça” bem alto serão realmente uns derrotados? Será que continuaremos a não ser capazes de descobrir vitórias nos processos de treino e de competição e não apenas nos resultados desta? O tema já foi abordado por muitos autores, sabendo-se claramente que a derrota também pode ser geradora de progresso. Ela pode fazer surgir novas energias e levar à descoberta de habilidades até aí desconhecidas. Pode também enriquecer a capacidade de análise da realidade, levando ao desenvolvimento da pessoa. Esta constitui, aliás, uma das mais nobres tarefas de qualquer treinador que se preze – conseguir que os seus atletas e equipas fiquem sempre um pouco “melhores pessoas” (tanto de um ponto de vista individual como colectivo) após cada uma das suas participações em competição. Esta deverá representar sempre o corolário de um determinado processo de trabalho, mais curto ou mais longo, com objectivos bem definidos e de diversos tipos;

C) Um olhar atento permite também descortinar a existência de poucas preocupações com o ensino e a difusão das regras das diferentes modalidades, tanto no que respeita ao processo de ensino-aprendizagem como junto dos espectadores em geral, sendo que, não poucas vezes, acontece até mesmo os próprios treinadores não as dominarem lá muito bem! Quantas campanhas em prol da melhoria dos comportamentos já contemplaram estas vertentes? Quantas organizações desportivas (dos clubes às associações e federações) já se preocuparam de uma forma profunda, consistente e continuada com esta questão? Que esforços são feitos para termos melhores espectadores? Em que estado se encontram as preocupações com a inclusão de formas de responsabilização dos jovens no seu próprio processo de formação – adequada preparação para o exercício das funções de capitão, árbitro/juiz, participante activo na organização das actividades – o quadro de honra ou jornal de parede da equipa/clube seriam algumas das muito boas possibilidades... Ou será que a generalidade dos treinadores está praticamente apenas preocupada com aquele a que poderíamos chamar o lado técnico-táctico da preparação dos jovens atletas? Ou será, ainda, que estamos a assistir a uma enorme pressa em colocar o mais rapidamente possível no mercado de transferências o maior número possível de activos”? Vários indícios parecem indicar que tal se estará realmente a passar, o que não deixa de ser francamente preocupante e a exigir uma profunda intervenção na respectiva formação inicial e contínua, uma vez que a riqueza da prática desportiva está longe de se esgotar naqueles aspectos (os técnicos e os tácticos) e tem um enorme potencial formativo e educativo que urge colocar ao serviço da preparação de todo e qualquer candidato à prática sistemática e responsável de actividades desportivas. Esta questão é ainda mais relevante na medida em que será do conjunto destes, dos praticantes, que sairão muitos dos futuros espectadores e possíveis responsáveis pelos diferentes níveis de organização das mesmas;

D) Aliás, e em relação às campanhas a favor da ética e do fair-play, nada temos contra as mesmas. Muito antes pelo contrário, todas as iniciativas (campanhas visando determinados alvos, atribuição de prémios, galardões ou quaisquer outras distinções especiais, etc.) em prol da defesa e preservação dos mesmos serão sempre bem vindas. Só que as mesmas nos têm parecido muito pouco eficazes. Aquele que poderá talvez constituir o principal problema, aquele que é necessário atacar com muita determinação, encontra-se a montante, no âmbito da formação dos agentes e na forma como ensinam e transmitem os conteúdos do processo de ensino-aprendizagem. De facto, estamos profundamente convictos de que uma boa implementação e aceitação da esmagadora maioria dos aspectos educativos e formativos, em que a prática desportiva é extremamente rica, pouco dependerá, no caso concreto da situação que se vive entre nós, dos apelos ao “bom comportamento” normalmente associados aquelas campanhas. Acreditamos firmemente, isso sim, é que estes aspectos são intrínsecos, fazem parte de, são como “unha com carne”, relativamente aos diferentes gestos e acções técnicas, aos processos tácticos, aos esforços e sacrifícios necessários para se ultrapassarem as dificuldades físicas, etc. Portanto, deverão ser ensinados e aprendidos em simultâneo e, naturalmente, em perfeita sintonia e respeito por tudo o que se estipula nas regras e regulamentos de cada uma das modalidades. Isto significa, para nós de uma forma bastante clara, que o grande investimento deverá ter lugar na formação dos respectivos agentes. E também muito oportuno relembrar agora aquilo que vários estudos já realizados demonstraram com bastante definição: quanto mais reduzidos forem os argumentos relativos ao domínio e ao aprofundamento das competências técnicas, maiores serão as probabilidades de as equipas e os praticantes se ‘Virarem” para a utilização de “outros recursos” – “batotas” da mais variada ordem, incluindo o desrespeito pelo que estipulam as regras, procurando enganar os árbitros sempre que possível – e, inclusivamente, para o recurso à violência. Só por manifesto respeito para com o decoro que aqui entendemos dever manter, não mencionaremos nenhum exemplo concreto da verdadeira “Enciclopédia dos Truques” ensinada em muitas instituições que deveriam ser, antes do mais, exemplos positivos de boas e salutares práticas. Já agora, parece que, no que diz respeito ao doping, a situação apresentará, em certa medida, contornos bastante semelhantes. Aproveitamos, aliás, para afirmar que nos encontramos entre aqueles que já não acreditam ser possível resolver os problemas do doping no interior do sistema desportivo. São necessários reforços vindos do exterior!... Ainda aqui, toma-se difícil resistir à tentação de estabelecer um certo paralelismo com as campanhas da segurança rodoviária e os enormes e vergonhosos índices de sinistralidade que ocorrem nas nossas estradas. A verdade é que as campanhas visando a prevenção se sucedem ano após ano (a nosso ver pouco imaginativas e “desfocadas” das verdadeiras causas), mas sem que se produza uma significa alteração dos comportamentos de quem conduz e permanecendo praticamente intacta a ‘tendência para a asneira”! E bem verdade que cada um de nós tem a sua quota de direito à asneira... mas, convenhamos, não em domínios tão importantes e sensíveis como estes!

E) A análise do muito que os diferentes órgãos de Comunicação Social trazem até nós é de uma riqueza e variedade extremas. Por isso mesmo, pela dificuldade em abarcarmos tudo, vamos aqui referir-nos apenas a um exemplo extremamente curioso. Por contraste com a muita benevolência por vezes manifestada para com atitudes claramente criticáveis ocorridas nas competições, vemos por vezes dar bastante relevo a uma zanga que ocorre entre dois elementos de uma equipa durante uma sessão de treino da mesma. Sabemos muito bem que este não é um discurso fácil – em princípio, uma sessão de treino não se apresenta como uma ocasião propícia a zangas. Contudo, e sendo certo, relativamente à ocorrência de situações problemáticas no treino, que o mesmo não contém as cargas de pressão psicológica e de incerteza próprias da competição, a verdade é que, quando se treina de forma suficientemente intensa e a sério na preparação para enfrentar as situações de grande tensão próprias da competição, é perfeitamente natural que tais problemas ocorram uma ou outra vez no decurso das várias etapas da preparação. Aqui, compete aos treinadores, devidamente atentos e preparados para tal, fazerem o aproveitamento de tais situações e momentos de tensão para a correcção e reajustamento das atitudes e respectivo controlo e auto-controlo por parte dos atletas. Poderemos dizer que caso fosse esta a posição predominantemente adoptada pela generalidade dos treinadores, devidamente apoiados por todos os outros diferentes responsáveis, muito provavelmente o número de situações problemáticas nas competições seria bastante menor. Mesmo que outras razões não houvesse, a verdade é que se passa muito mais tempo em treino e preparação do que em situações de competição oficialmente reconhecida no respectivo calendário. Basta que se façam cuidadosamente as contas! A ser assim, talvez a situação relatada não fosse encarada pela comunicação social com tanta estranheza e lhe fosse adequadamente atribuído o significado que realmente possui.

F) É também possível fazer a constatação da existência do gasto de significativas verbas em áreas de nula ou reduzida eficácia no combate aos problemas que resultam da ausência de fair-play, do desrespeito pelo espírito desportivo e pelo que determinam as regras e idêntica constatação no que respeita à pobreza dos meios disponibilizados para uma adequada formação dos diferentes agentes desportivos. De facto, é deveras impressionante observar a frenética actividade dos vários conselhos relacionados com a disciplina que integram as diversas estruturas desportivas regionais e nacionais (associações e federações). Quanto custa tudo isto, mesmo admitindo a muita e generosa participação benévola de muitos dos seus integrantes? Quanto custa toda a enorme quantidade de papelada que é necessário movimentar com o envio de relatórios, elaboração de sucessivos recursos, envolvendo os diferentes intervenientes, etc? E também os muitos telefonemas, faxes e e-mails (quando tal é possível, uma vez que este equipamento parece não estar ainda genericamente acessível a muitas destas instituições?) E a marcação de múltiplas reuniões com muita gente a viajar daqui e dali para ali? E como será possível calcular o preço da evidente deterioração da imagem pública de todas estas instituições, alvo das mais variadas formas de protesto e de tentativas de as atingir no respectivo crédito e bom-nome? As disposições preconizadas no novo ordenamento jurídico proposto para a organização do nosso sistema desportivo, aglutinando muitas das dispersas competências, representam algum progresso. No entanto, estamos em crer que poderiam ter sido avançadas medidas de tipo ainda mais ousado que forçassem todos os intervenientes a pensarem muito bem nos custos e evidentes inconvenientes que todo este processo acarreta (por exemplo, introduzir mecanismos de penalização do montante dos subsídios a atribuir anualmente às instituições desportivas sempre que os respectivos níveis de indisciplina ultrapassassem determinados limites - naturalmente que não seria muito fácil determinar estes, mas valeria seguramente a pena tentar nem que fosse como mero mecanismo dissuasor);

G) Já que estamos a falar de custos, paremos apenas para reflectir ainda mais um pouco. Quanto custa ao erário público assegurar que as claques, constituídas por elementos que se encontram completamente ‘a leste’ de qualquer ideia de respeito pelo espírito desportivo (há-as com as mais variadas designações e para muitos e diferentes gostos’) se mantêm em respeito em cada jogo e no interior de cada estádio, devidamente separadas e suficientemente afastadas das do ‘inimigo? E quanto custa igualmente ter de proceder à protecção das áreas de serviço nas auto-estradas sempre que aquelas se deslocam, tentando destruir tudo à sua passagem, quer o seu clube tenha ganho ou perdido? E para que isto seja possível torna-se muitas vezes necessário mobilizar forças policiais e de segurança de áreas razoavelmente distantes e que ficam menos bem protegidas durante algum tempo!

H) E quanto custa o tempo de paragem e o tratamento de um atleta lesionado, sendo que muitas lesões têm origem em intervenções de elementos da equipa contrária com manifesto desrespeito pelas regras e pelas boas soluções técnicas?

I) Começa igualmente a ser muito preocupante a verificação de que o tipo de problema atrás referido já começou a estender-se e a penetrar no interior da prática das actividades físicas e desportivas na escola, com os jovens a mostrarem muita tendência para jogarem como os grandes, utilizando o físico’ de forma arriscada e nos limites’. São já muitos os professores de Educação Física que relatam até casos de lesões graves provocadas por aquela tendência. A propósito disto – Albert Schweitzer, galardoado com o Prémio Nobel da Paz em 1952, dizia que a única forma de influenciar o comportamento dos outros é através do exemplo! Vamos, sem muito esforço, admitir que esta grande referência da Humanidade tinha razão, mesmo que apenas numa pequena parte. Mas com que tipos de exemplos são confrontados os jovens? Estamos aqui óbvia e simplesmente a referir-nos apenas às coisas do desporto sem extravasarmos para outros domínios. Que é que lhes entra pela casa adentro através do ecrã mágico em muitas e muitas transmissões das nossas actividades desportivas ou quando os mesmos assistem em directo às próprias competições? Ainda não há muito tempo ouvimos um comentador de um jogo de futebol com transmissão televisiva dizer, enquanto as claques dos dois clubes em confronto se insultavam alto e bom som e usando o mais descarado e obsceno palavreado, que as mesmas travavam um diálogo interessante. E tudo isto através do canal público de televisão. No actual estado de coisas com muita facilidade estará a passar para os mais jovens, e não só, uma mensagem do tipo “pois...se toda a gente faz assim é porque está certo!” E, já agora, quais os custos sociais e pessoais para um jovem que fica durante algum tempo com limitações de frequência das suas aulas em consequência de uma lesão contraída neste tipo de circunstâncias?

J) Ainda a propósito de custos, falemos também dos custos desportivos. Vivendo-se, no plano interno, um certo clima muito tolerante e compreensivo para com algumas condutas verdadeiramente à margem das regras e do respeito pelo espírito desportivo, o qual algumas vezes chega até à tentativa de um certo branqueamento de alguns comportamentos absolutamente condenáveis, tanto de um ponto de vista estritamente desportivo como do da respectiva aprovação social, alguns dos nossos representantes dão-se mal nas competições internacionais, uma vez que nas mesmas, tanto o ambiente geral como os respectivos árbitros, não manifestam aquele grau de compreensão e tolerância. Daí aos rápidos cartões amarelos e outras sanções limitadoras da respectiva acção é um passo, com os evidentes prejuízos para as respectivas equipas.

K) Parece que estamos claramente a atravessar uma época na qual se atribui uma extrema importância aquilo que poderemos designar como a excelência desportiva, encontrando-se relegada para um plano absolutamente secundário ou mesmo residual aquela a que se poderia chamar a excelência moral ou ética. E, pedimos que nos desculpem, nem mesmo os vários prémios ao fair-play, embora de atribuição extremamente justa e entregues com toda a pompa e circunstância em bonitas cerimónias, conseguem esbater este evidente desequilíbrio. No actual estado de coisas, torna-se muitas vezes bastante difícil distinguir as fronteiras que definem onde começam e acabam a estratégia e a táctica, a exploração dos limites das regras e a batota mais ou menos descarada!

Seria demasiada pretensão da nossa parte pretender ter uma explicação clara e simples para uma situação tão complexa como a que os exemplos que acabámos de referir deixam antever. Mas, muito provavelmente, poderemos procurar identificar um certo grupo de factores que atravessa transversalmente toda esta problemática:

  • Por um lado, o facto de, para muitos dos agentes desportivos e a todos os níveis, os resultados terem passado a constituir um fim em si mesmos, em vez de um meio para se chegar a outros valores bem mais importantes, como sejam, por exemplo, o da valorização da pessoa;
  • Por outro lado, o baixíssimo nível de investimento que se tem verificado na formação dos agentes desportivos – o eterno problema da importância a atribuir aos recursos humanos (será que ainda persistem dúvidas de que para termos algum sucesso no contexto da União Europeia esta é uma questão absolutamente prioritária?);
  • Por outro lado, muitos e muitos treinadores continuam a manifestar extrema debilidade em muitos e fundamentais aspectos da construção da respectiva concepção de jogo, da concepção de treino e preparação ou da filosofia de jogo, como lhe chamam os autores norte-americanos. Ora, uma sólida formação desta implica que os treinadores tenham como muito claro o que pretendem da vida e da prática desportiva, conheçam e acreditem nos valores que esta veicula, sejam coerentes nas suas atitudes e práticas, enfim e em última instância, que se interroguem permanentemente sobre a sua missão e vocação. Teremos de convir que não nos chegam muitos sinais de que tal se estará a passar de forma generalizada. Pelo contrário, parecem prevalecer os comportamentos característicos de que o que vale a pena é que cada um trate da sua vidinha!

Pela sua natureza e complexidade, os tipos de problemas referidos requerem uma profunda atenção e uma intervenção muito cuidada, seguramente que a solicitar esforços de variadas fontes. Poderemos até apelar à articulação de esforços de vários ministérios. Contudo a primeira e principal fonte de mudança tem de residir em cada um de nós, em cada indivíduo. Cremos, apesar de tudo, tratar-se de um grande desafio que pode e merece ser ganho.