Coach Talks: Mais do que Treinadores, Líderes Humanos
No universo competitivo do desporto é fácil reduzir o papel do treinador à componente técnica: elaborar planos de treino, desenhar jogadas, analisar adversários. Mas quem assistiu ao webinar “Coach Talks: Competências do Treinador”, a mais recente rubrica da Escola de Treinadores da Confederação de Treinadores de Portugal, percebeu rapidamente que ser treinador é, acima de tudo, ser humano. E liderar com humanidade.
Veja ou (re)veja a estreia do Coach Talks com Pedro Sequeira e Carlos Barroca AQUI.
Carlos Barroca, figura maior do basquetebol português com um percurso internacional notável, foi o convidado da sessão e ofereceu-nos uma visão que vai muito para além dos pavilhões e dos esquemas táticos. Na sua intervenção, falou-se de liderança, de cultura, de ética, mas sobretudo de pessoas.
E é aqui que começa a verdadeira reflexão: que tipo de líderes queremos ser enquanto treinadores? Liderar não é impor, nem comandar por autoridade. É, como Barroca disse com simplicidade e clareza, criar cultura, inspirar, dar o exemplo. Um bom treinador não grita mais alto — escuta melhor. Não pede mais esforço — mostra como se faz.
A cultura de uma equipa constrói-se nos detalhes. No modo como se entra no balneário, como se celebra um esforço, como se responde a um erro. Aquilo que o treinador tolera, promove ou ignora transforma-se em norma, em identidade coletiva. A liderança nasce, portanto, da coerência entre discurso e prática.
Mas se há ideia que perdura desta conversa, é esta: os atletas não se lembram das instruções táticas, mas sim da forma como os fizemos sentir. Esta frase encerra uma verdade essencial. Podemos treinar campeões, mas se não os ajudarmos a crescer como pessoas, o nosso impacto será incompleto — e, talvez, irrelevante.
Há um desafio ético incontornável no treino. Trabalhar com jovens, muitas vezes em fases críticas da sua construção pessoal, implica responsabilidade. Implica saber dizer “não”, ter a coragem de corrigir, mas também a sensibilidade de compreender. Implica, acima de tudo, formar cidadãos e não apenas atletas.
Outro ponto forte desta conversa foi a defesa incondicional da formação contínua e da humildade intelectual. O treinador que acha que já sabe tudo é aquele que parou de crescer. E, como sublinhou Pedro Sequeira, Presidente da Confederação de Treinadores, a evolução só acontece fora da zona de conforto — seja através da observação, da partilha entre pares ou da abertura à diferença.
Há uma urgência em promover esta cultura de aprendizagem entre treinadores. Uma cultura de colaboração, não de competição. De entreajuda, não de ego. De crescimento conjunto, não de comparação constante.
Por tudo isto, é justo dizer que o webinar não foi apenas uma partilha de competências. Foi um apelo à consciência de quem treina, educa, forma. Um lembrete de que, mais do que preparar equipas, estamos a preparar pessoas. E isso exige não só conhecimento, mas também sensibilidade, caráter e empatia.
Que estas conversas continuem. Que os treinadores deixem de ser apenas técnicos para se tornarem líderes humanos. O desporto — e a sociedade — agradecem.