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Como lidar com o Match Fixing

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A manipulação de resultados desportivos (match fixing) e a forma como os treinadores se devem preparar nesta situação foi o tema do último webinar da Escola de Treinadores, que contou com a participação de João Paulo Almeida, gestor de desporto e Frederico Gil, ex-tenista profissional, numa sessão moderada por Marco Santos. Com o objetivo de sensibilizar treinadores de diversas modalidades para uma realidade cada vez mais presente no mundo do desporto, esta sessão abordou os riscos associados à manipulação de competições, os mecanismos de prevenção e a importância do papel do treinador como agente educativo e ético.

João Paulo Almeida destacou que o match fixing é um fenómeno antigo, mas que tem vindo a assumir contornos mais perigosos com o crescimento das apostas desportivas online, muitas vezes geridas por redes ilegais e ligadas ao crime organizado. Segundo dados apresentados, estima-se que o mercado ilegal de apostas mova entre 500 mil milhões e 1 bilião de euros por ano, com 82% das apostas a serem feitas fora dos canais licenciados. O responsável sublinhou que a manipulação de resultados deixou de ser motivada apenas por interesses desportivos — como facilitar a qualificação ou evitar uma descida de divisão — para se tornar um instrumento de branqueamento de capitais e de criminalidade transnacional. Neste contexto, destacou três pilares essenciais para o combate ao fenómeno: educação e sensibilização, regulação e partilha de informação.

Por sua vez, Frederico Gil, primeiro tenista português a atingir o Top 100 do ranking ATP, partilhou a sua experiência pessoal ao ser abordado com uma proposta de 250 mil dólares para perder um jogo numa fase inicial de um torneio Challenger. O ex-atleta relatou como resistiu à proposta e a importância do apoio do seu treinador na decisão de não ceder à pressão. “Nem sequer respondi. Mostrei a mensagem ao meu treinador e seguimos em frente. Mais tarde, fui chamado pela Tennis Integrity Unit, que confirmou a tentativa de corrupção e me orientou sobre como proceder”, relatou. Frederico reforçou ainda que muitos atletas, sobretudo em fases difíceis da carreira, podem ser mais vulneráveis a este tipo de aliciamento, especialmente quando se encontram sem apoio familiar, emocional ou técnico.

Ambos os intervenientes concordaram que o treinador deve assumir um papel de referência, não apenas no plano técnico, mas também no plano humano e emocional. João Paulo Almeida defendeu que os treinadores devem “educar para a integridade desde cedo” e formar atletas conscientes do que representa ceder a este tipo de práticas.

A importância da família foi igualmente destacada. Para Frederico Gil, o bom desempenho desportivo está muitas vezes associado ao equilíbrio nas relações pessoais e familiares, sendo essencial que os pais saibam ouvir e apoiar os seus filhos, em vez de exercerem pressão ou se afastarem do processo formativo.

Um dos pontos mais importantes abordados no webinar foi a necessidade de saber denunciar. João Paulo Almeida alertou que a manipulação de resultados é crime em Portugal e que quem não denuncia uma situação conhecida pode também ser responsabilizado judicialmente. Nesse sentido, o Comité Olímpico de Portugal disponibiliza no seu site uma área dedicada à integridade desportiva, com recursos pedagógicos, regulamentação e uma linha de denúncia anónima ligada ao Comité Olímpico Internacional. O gestor desportivo salientou ainda que estas formações devem passar a fazer parte obrigatória do currículo dos treinadores, no âmbito da formação para a ética e integridade no desporto. A fechar, João Paulo Almeida deixou uma mensagem simples e objetiva a todos os treinadores e agentes desportivos: “São três os passos fundamentais: Reconhecer, Recusar e Reportar. Só assim poderemos proteger os nossos atletas e o futuro do desporto.”

Como habitualmente, o webinar foi acompanhado por centenas de treinadores de várias modalidades e deixou clara a importância de continuar a investir na formação ética e na prevenção de riscos no desporto.