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Saúde Mental no Desporto

Saúde mental. Estas duas palavras, juntas e por esta ordem, entraram no léxico comum e são na maior parte das vezes associadas a problemas… Ana Bispo Ramires, Psicóloga Desportiva, moderou um painel que levou aos treinadores portugueses uma visão diferente e inspiradora. Ao seu lado estava José Uva, treinador olímpico de triplo salto, responsável pela preparação de Patrícia Mamona, Jorge Braz, selecionador nacional de futsal e Duarte Araújo, Professor de perícia e psicologia do desporto na FMH-UL.

Os treinadores sempre deram importância ao treino mental. Quem procura ultrapassar os limites tem terreno grande a percorrer. O que conta é do pescoço para cima e talvez seja o mais negligenciado. Com a Patricia Mamona recorremos aos melhores e o Duarte Araújo tem tido um papel fundamental. Com a ajuda dele temos conseguido potenciar os seus resultados”, começou por dizer José Uva.

Jorge Braz pegou na palavra para destacar o trabalho de Duarte Araújo. “O Duarte tem seguramente mais titulos do que eu”, disse antes de dizer qual a importância, para si, da saúde mental no desporto: “Fizeram-me essa pergunta recentemente, pensei um pouco e respondi: Isso é fácil, é 100 por cento. Só que depois o aspeto tático, o físico, o estratégico, o técnico, também têm 100 por cento de importância! No passado, eu tinha uma pessoa a quem dava um bilhete para o pavilhão e cuja função era sentar-se atrás do banco de suplentes. Agora, já é oficial e faz parte da equipa técnica. Ajuda a programar o treino, faz assessoria à equipa técnica, dá feedback…

O especialista Duarte Araújo reforçou a ideia de que “a psicologia faz parte do treino, pois ninguém é só biológico ou biomecânico” e explicou que “quando se fala de saúde mental não estamos a falar de doença mental”, mas sim “a olhar para a saúde mental como promoção do que fortalece o atleta para ir mais longe”.

Os problemas de saúde mental fazem parte do processo, mas hoje é preciso entender que é preciso muita saúde mental para ter sucesso. A alta competição é sempre superar o que anteriormente se fez de bom, é uma grande instabilidade”, prosseguiu.

Ana Bispo Ramires lançou de seguida assunto premente: quais os fatores que abalam a saúde mental dos treinadores?

O dia-a-dia”, disse José Uva, para logo de seguida juntar outras ideias: “O processo competitivo, a falta de reconhecimento social. Costumo dizer que nenhum treinador é baldas, pois o desporto desenvolve competências desejadas pelas empresas. No entanto, tem tão pouca importância, até a nível de orçamento de Estado? O treinador é um especialista em fingir que tem saúde mental. Às vezes temos problemas, vimos cansados do dia, mas chegamos ao treino e eles desaparecem. Porque há tantos treinadores divorciados? Quantos são casados várias vezes ou quantos estão sozinhos?

Jorge Braz, por seu lado, contribuiu para o debate com uma ideia importante: “Às vezes fala-se da competição como sendo um momento pressão. Dizem… vem lá o Europeu, o Mundial… Isso não é nem pode ser a pressão. Isso é o objetivo. No treino sofre-se, claro. Muitas vezes a paixão mata e queremos tanto fazer bem que acabamos por não desfrutar. Se não somos felizes no que fazemos não vale a pena”.

A judoca Bárbara Timo costuma dizer que não gosta nada de ouvir que no dia da competição vai para a guerra. A competição é um dia de festa, de celebração. Isto trabalha-se”, acrescentou Duarte Araújo.

Veja todas as fotos do 10º Congresso na Galeria. Recordamos a todos os que participaram, tanto presencial como de forma online, que todas as sessões do 10º Congresso de Treinadores estão disponíveis durante seis meses na plataforma de transmissão AQUI, para ver ou rever e depois ficarão disponíveis no canal Youtube da Confederação de Treinadores.